quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Outra vez criança

(Clique na foto para vê-la em tamanho real)


Se eu pudesse escolher entre avançar no tempo ou regredir

É claro que eu regrediria.

Eu voltaria a ser criança de novo

E me veria livre de milhares de problemas do dia-a-dia. Adeus computadores, adeus preocupações, adeus obrigações...

Eu vestiria minhas fantasias, pegaria minhas malas e partiria para o Reino do Faz-de-conta

E esqueceria que um dia fui adulto.

Lá, eu esfregaria uma lâmpada mágica e pediria ao gênio

Que nunca deixasse eu passar de criança.

Sim. Eu não quero mais ser adulto!

Tou cheio desse falso mundo feliz

Onde só há competições, competições, competições...

Há também desconfianças, traições, problemas...

As pessoas enlouquecem em busca de dinheiro e mais dinheiro – O cofre nunca enche.

Quero ficar com as moedas de chocolate

Quero lambuzar minha cara com elas
Quero poder sorrir de tudo e chorar quando tiver vontade.

Quero o colo de minha mãe,

Um abraço de meu pai,

A companhia das fadas e dos anjos.

Quero fazer barquinhos de papel

Bonecas de pano, bolas de meia

Quero sentir de novo meus dentinhos caírem

Quero de volta meu sorriso banguela - Mas aquele banguela que ainda não teve todos os dentes.

Quero me admirar com a lua, com o sol, com as estrelas

Poder correr atrás dos pombos sem me sentir ridículo

Quero sentar no colo de meu pai na beira da estrada e ver os carros passarem.

Quero ser feliz outra vez

Quero ser outra vez criança.
Por João Rodrigues

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Curvas


Nas curvas deste caminho
eu a encontrei.
Você passou.
Eu fiquei.

Doce pecado

Havia anos ela morava naquele quarto, em meio às coisas sacras e cercada de pensamentos que nem mesmo Deus deveria ficar sabendo — seria uma heresia, uma calúnia à Santa Madre Igreja se ela se permitisse a deixar sair de sua boca tais sentimentos. Na parede, um pôster de seu artista preferido (que ela mantinha guardada a sete chaves, longe dos olhos da madre superiora), seminu, com o tórax malhado e os músculos definidos — uma tentação — mostrava todas as perfeições de um corpo bonito, e fazia aflorar todas as imperfeições de uma mulher, suas fraquezas e desejos. Nunca tivera um homem antes e, aos 21 anos de idade, não conhecia ainda o doce e ardente gosto do prazer carnal. Aquele pôster ali, diante de seus olhos, lhe fazia viajar em meio a loucuras que não fora cometido nem mesmo nos primeiros dias de Adão e Eva, quando ainda freqüentavam o Paraíso.
Sua vida sempre fora dedicada a ajudar os necessitados, dedicada à religião e à igreja. Fora internada em um convento aos 13 anos de idade, quando seu corpo já estremecia ao sentir a presença de um homem, e os seus desejos viviam à flor da pele. Morena, de olhos verdes e cabelos pretos escorrendo ombros abaixo – graças à mistura de etnias que reinava em suas raízes – lábios grossos e bem-feitos e muitos outros atributos com os quais a mãe natureza a presenteara, Naiara fora a musa do colégio, depois, da igreja, e por fim, daquele convento com ares de santo. Mesmo cercada de hinos e orações, sua beleza não se deixou morrer. Algumas irmãs achavam-na bela, outras, invejavam-na, e outras ainda adorariam ter com ela uma noite de amor, apenas.
Lá embaixo, vozes entoavam um belo hino de louvor; e, dentro de si, como se tivesse tomado aguardente, uma onda de calor aquecia tudo. Seu corpo estremecia, um fio de suor descia de seu rosto pálido. Sentia tudo aquilo pela primeira vez. Teve medo. Sabia que era da carne. O pecado estava tentando sua alma. Aqueles desejos reprimidos afloravam, não conseguia mais mantê-los em segredo; o corpo pedia que os satisfizessem. Não havia mais como controlá-los. Na parede à sua frente a imagem de uma santa sorria, de escárnio, pensou, ou talvez a perdoando. Maria Madalena. “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. Pareceu ter ouvido alguém falando isso. Não sabia mais se ouvia ou se sonhava.
A porta se abriu. Seu hábito foi arrancado violentamente. E todo o seu corpo se entregou ao pecado, ao desejo, ao prazer condenável pela igreja, pelos santos e por todos aqueles que não tiveram a coragem de se entregar aos prazeres do corpo com os quais Deus nos fez. Ao prazer que carrega direto ao fogo do inferno. Ao inferno que vivia dentro dela, ao fogo que incendiava a sua alma. À maçã. À Eva, ou Lilith. Ela descobriu o conhecimento, o prazer, o pecado no imundo e belo corpo da madre superiora.



Por João Rodrigues

Vencedores do Prêmio Jabuti 2008

Na noite de 31 de outubro passado houve a entrega do Prêmio Jabuti - que desde 1959 premia os melhores talentos da literatura brasileira - em São paulo, aos vencedores de 2008.
Para quem é do mercado editorial ou mesmo apenas um simples leitor que gosta de ficar antenado ao que ocorre no mundo literário, pode acessar a página www.premiojabuti.com.br/BR/resultadofase2.php e ver quem foram os vencedores das 20 categorias selecionadas.