Sua vida sempre fora dedicada a ajudar os necessitados, dedicada à religião e à igreja. Fora internada em um convento aos 13 anos de idade, quando seu corpo já estremecia ao sentir a presença de um homem, e os seus desejos viviam à flor da pele. Morena, de olhos verdes e cabelos pretos escorrendo ombros abaixo – graças à mistura de etnias que reinava em suas raízes – lábios grossos e bem-feitos e muitos outros atributos com os quais a mãe natureza a presenteara, Naiara fora a musa do colégio, depois, da igreja, e por fim, daquele convento com ares de santo. Mesmo cercada de hinos e orações, sua beleza não se deixou morrer. Algumas irmãs achavam-na bela, outras, invejavam-na, e outras ainda adorariam ter com ela uma noite de amor, apenas.
Lá embaixo, vozes entoavam um belo hino de louvor; e, dentro de si, como se tivesse tomado aguardente, uma onda de calor aquecia tudo. Seu corpo estremecia, um fio de suor descia de seu rosto pálido. Sentia tudo aquilo pela primeira vez. Teve medo. Sabia que era da carne. O pecado estava tentando sua alma. Aqueles desejos reprimidos afloravam, não conseguia mais mantê-los em segredo; o corpo pedia que os satisfizessem. Não havia mais como controlá-los. Na parede à sua frente a imagem de uma santa sorria, de escárnio, pensou, ou talvez a perdoando. Maria Madalena. “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. Pareceu ter ouvido alguém falando isso. Não sabia mais se ouvia ou se sonhava.
A porta se abriu. Seu hábito foi arrancado violentamente. E todo o seu corpo se entregou ao pecado, ao desejo, ao prazer condenável pela igreja, pelos santos e por todos aqueles que não tiveram a coragem de se entregar aos prazeres do corpo com os quais Deus nos fez. Ao prazer que carrega direto ao fogo do inferno. Ao inferno que vivia dentro dela, ao fogo que incendiava a sua alma. À maçã. À Eva, ou Lilith. Ela descobriu o conhecimento, o prazer, o pecado no imundo e belo corpo da madre superiora.
Por João Rodrigues
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